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FIBRAS SOLÚVEIS: UMA OPORTUNIDADE DE MERCADO QUE BENEFICIA A SAÚDE DO CONSUMIDOR


Desde a publicação pelo CODEX da definição para fibra alimentar, no ano de 2009, muitos países passaram a adotar a mesma definição1. Paralelamente, observou-se um movimento global para revisar regulamentos de rotulagem nutricional. As fibras alimentares são polímeros de carboidrato cuja conformação da molécula permite que passem pelo estômago e intestino delgado sem sofrer digestão. Ao alcançar o intestino grosso, são parcialmente fermentados e seus produtos de fermentação contribuem para os muitos benefícios fisiológicos associados ao seu consumo das fibras. 2

Em face dos baixos níveis globais de ingestão de fibras, órgãos de saúde em todo o mundo recomendam um incremento das fibras na alimentação,3 tanto por meio daquelas de origem intrínseca, provenientes de verduras, legumes, frutas e grãos, como da fibra adicionada, encontrada em alimentos e bebidas formulados.1 O objetivo é cobrir o déficit entre a ingestão real e o consumo recomendado de fibras, que varia de 25 a 38 gramas por dia, de acordo com as recomendações de diferentes países e organismos ao redor do mundo.4

Pesquisas indicam que os consumidores conhecem a importância do consumo da fibra alimentar: globalmente, 52% dos consumidores relatam o desejo de aumentar seu consumo de fibras.5 No Brasil, esse percentual é ainda maior, atingindo 61% .5 Os motivos citados pelos brasileiros entrevistados relacionam-se aos muitos benefícios à saúde atribuídos às fibras, incluindo aspectos relacionados a um metabolismo saudável (66%); saúde digestiva (58%); regularidade intestinal (52%); alimentação saudável (47%); saciedade (44%); gerenciamento do peso corporal (42%); e boa forma física (30%).5

Considerando que a recomendação mínima de consumo para a fibra alimentar é de 25g/dia, a dieta brasileira mostra uma ingestão aquém do recomendado, que se situa entre 10 e 21 gramas por dia. O consumo médio diário de fibras do brasileiro é de 15,2g,6 o que se assemelha ao consumo médio atual encontrado na dieta americana (16 g/dia), considerada uma dieta baixa neste nutriente.7

Enquanto as fontes tradicionais de fibra, como grãos integrais, frutas e vegetais devem ser incentivadas, a fibra adicionada pode mais facilmente ajudar a alcançar a ingestão recomendada de fibra alimentar. Um grande número de pesquisas continua a demonstrar que as fibras adicionadas fornecem uma série de benefícios, incluindo a redução da resposta glicêmica, mudanças favoráveis na microbiota intestinal e melhoria na absorção de cálcio e na saúde óssea, para citar apenas alguns.

TOLERÂNCIA DIGESTIVA

Uma das principais preocupações dos consumidores refere-se a um possível desconforto digestivo causado por algumas fibras, e que pode incluir distenção abdominal, ruídos intestinais, cólicas, flatulência e diarréia, particularmente se a fibra for consumida em altas doses. Estes efeitos são devidos principalmente à produção de gases liberados pela fermentação, já que a microbiota intestinal fermenta as fibras no cólon, produzindo ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), dióxido de carbono e gases de hidrogênio.

No entanto, algumas fibras alimentares causam mais desconforto gastrointestinal do que outras. Isso ocorre porque as fibras tem características próprias: a solubilidade, viscosidade e grau de polimerização(comprimento da cadeia), entre outros fatores, são particulares a cada tipo de fibra. Essas variações levam a microbiota a fermentá-las de forma diferente e contribuem para distintas tolerâncias gastrointestinais, dependendo da fibra em questão.

Em geral, as fibras de cadeia menor são rapidamente fermentadas e, portanto, mais propensas a causar flatulência, distensão abdominal e efeitos laxativos ou diarréia. Fibras de cadeias maiores fermentam mais lentamente e, desta forma, são melhor toleradas.

FIBRA SOLÚVEL DE MILHO

Em junho de 2018, o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA publicou o “Guidance for Industry: The Declaration of Certain Isolated or Synthetic Non-Digestible Carbohydrates as Dietary Fiber on Nutrition and Supplement Facts Labels” (Orientação para a Indútria: A Declaração de Certos Carboidratos Não Digestíveis Isolados ou Sintéticos como Fibra Alimentar na Rotulagem Nutricional).8 Nele, identificou os carboidratos não-digeríveis, considerados fibra dietética, que podem ser assim indicados na rotulagem nutricional, quando adicionados à formulação de alimentos e bebidas. Quando publicada, a lista se restringia a apenas 7 componentes, contemplando a polidextrose e a fibra solúvel de milho (maltodextrina resistente, por seu nome científico).

A fibra solúvel de milho ou maltodextrina resistente possui uma mistura de ligações glucosídicas α 1-6, α 1-4 e α 1-2 que se caracterizam por uma baixa digestibilidade (não são “digeridas” pelas enzimas humana), permitindo sua fermentação no cólon intestinal e consequentes benefícios à saúde. Testada por vários pesquisadores independentes para validar sua eficácia, os estudos com animais e seres humanos demonstraram benefícios fisiológicos, tais como, a promoção do funcionamento intestinal (laxação saudável); menor produção de metabólitos fecais prejudiciais; estímulo do crescimento e da atividade de bactérias benéficas específicas e produção de ácidos graxos de cadeia curta (propriedades prebióticas); apoio no controle do peso corporal; manutenção de níveis glicêmicos saudáveis; e suporte à saúde óssea, por meio do aumento da absorção de cálcio e retenção de cálcio ósseo (Figura 1).9-15

Figura 1: Fibra Solúvel de Milho aumenta retenção de cálcio ósseo em mulheres na pós-menopausa 14


Um número significativo de estudos demostraram uma melhor tolerância gastrointestinal da fibra solúvel de milho comparada a outras fibras como os frutanos - inulina e fruto-oligossacarídeos.16-17 Além disso, um modelo in vitro denominado Simulador de Ecossistema Microbiano Intestinal Humano (SHIME) mostrou que a fibra solúvel de milho é fermentada no cólon distal, levando a efeitos positivos no atividade da microbiota intestinal e em sua composição.18 A fermentação lenta e a menor produção de gases observadas para esta fibra ajudam a entender o mecanismo por trás de sua tolerância superior em comparação com os frutanos. O modelo in vitro também indicou que a fibra solúvel de milho pode ter propriedades imunomoduladoras e fortalecer a barreira intestinal in vivo.


APLICAÇÃO DA FIBRA SOLÚVEL DE MILHO

A fibra solúvel de milho tem baixa viscosidade, é solúvel em água, estável ao calor, ao pH e ao estresse de processamento. Ela fornece entre 70% e 90% do fibras, e a contribuição estimada de energia varia de 1,1 a 1,9 kcal por grama, dependendo da variedade, embora o valor a ser declarado para fins de rotulagem nutricional esteja sujeito à regulamentação local.

A adição de pequenas quantidades de fibra solúvel aos alimentos e bebidas formulados, além de ajudar a cobrir o déficit de fibras na dieta, sem uma contribuição calórica significativa, tem uma função importante na redução de açúcar, proporcionando produtos alimentares com corpo e textura adequados, essencial para sua boa aceitação pelo consumidor. A fibra solúvel de milho é de fácil aplicação em uma ampla gama de categorias, incluindo bebidas, produtos de panificação, laticínios e suas alternativas plant-based.

CONCLUSÃO

Em conclusão, as fibras alimentares são necessárias ao longo do curso da vida e são benéficas para o funcionamento e saúde do intestino, gerenciamento dos níveis de glicose no sangue e do peso corporal, e para a saúde óssea, em casos específicos. Por permitir a redução de açúcar e calorias nas formulações, contribui para produtos formulados em linha com políticas para combate à obesidade e ao diabetes.

Apesar do desejo dos consumidores de aumentar o consumo de fibras, ainda existe uma enorme lacuna entre a ingestão recomendada e a ingestão real desses componentes alimentares. As fibras adicionadas podem desempenhar um papel na redução desse ‘gap’, por sua fácil aplicação em várias categorias de alimentos e bebidas e segurança para todos os grupos populacionais, inclusive crianças e idosos. A fibra solúvel de milho, em particular, possui excelente tolerância e um grande potencial de benefício à saúde e bem-estar do consumidor.

Finalmente, a fibra solúvel de milho apresenta uma oportunidade relevante em inovação e renovação para a indústria de alimentos e bebidas, especialmente com a possibilidade de declarar seu benefício à saúde intestinal (claim), a partir da recente publicação da legislação de suplementos alimentares.


(Referências: 1. Jones JM. CODEX-aligned dietary fiber definitions help to bridge the 'fiber gap'. Nutr J. 2014;12;13:34.

2.Yao OL. Dietary fibre basics: Health, nutrition, analysis, and applications. Food Qual Saf. 2017;1: 47–59.

3. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva, 2003. (Technical Report, 916) Disponível em: https://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_TRS_916.pdf

4. Institute of Medicine, Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes: Energy, Carbohydrates, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein and Amino Acids. Washington, DC: National Academies Press; 2002/2005.

5.Tate & Lyle proprietary research, fibre AAU 2016, 11 countries, 8800 consumers.

6. Sardinha AN, Canella DS, Martins AP, Claro RM, Levy RB. Dietary sources of fiber intake in Brazil. Appetite. 2014;79:134-8.Contribution of Food Groups to Energy and Nutrient Intakes in Five Developed Countries. Auestad N1,2, Hurley JS3, Fulgoni VL 3rd4, Schweitzer CM5. Nutrients. 2015 Jun 8;7(6):4593-618.

7.US FDA. Guidance for Industry: The Declaration of Certain Isolated or Synthetic Non-Digestible Carbohydrates as Dietary Fiber on Nutrition and Supplement Facts Labels. Available at: https://www.fda.gov/Food/GuidanceRegulation/GuidanceDocumentsRegulatoryInformation/ucm610111.htm. Accessed on 27 September 2018.

8.Dietary Guidelines Advisory Committee. Report of the Dietary Guidelines Advisory Committee on the Dietary Guidelines for Americans, 2015.

9.Stephen AM, Champ MM-J, Cloran, SJ, et al. Dietary fibre in Europe: current state of knowledge on definitions, sources, recommendations, intakes and relationships to health. Nutrition Research Reviews. July 2017.

10.Howlett JF, Betteridge VA, Champ M, et al. The definition of dietary fiber – discussions at the ninth Vahouny fiber symposium: building scientific agreement. Food Nutr Res. 2010;54:1–5.

11.Codex Alimentarius Commission. Guidelines on Nutrition Labeling: CAC/GL 2-1985.: Joint FAO/WHO Food Standards Programme, Secretariat of the CODEX Alimentarius Commission; Rome, Italy 2010.

12.EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA); Scientific Opinion on Dietary Reference Values for carbohydrates and dietary fibre. Parma, Italy: European Food Safety Authority. (The EFSA Journal; No. 1462). DOI:10.2903/j.efsa.2010.1462.

13.Kaczmarczyk MM, Miller MJ, Freund GG. The health benefits of dietary fiber: Beyond the usual suspects of type 2 diabetes mellitus, cardiovascular disease and colon cancer. Metabolism. 2012;61:1058-66.

14.Whisner CM, Martin BR, Nakatsu CH, Story JA, MacDonald-Clarke CJ, McCabe LD, McCabe GP, Weaver CM. Soluble Corn Fiber Increases Calcium Absorption Associated with Shifts in the Gut Microbiome: A Randomized Dose-Response Trial in Free-Living Pubertal Females. J Nutr. 2016;146:1298-306.

15.Jakeman SA, Henry N, Martin BR, McCabe GP, McCabe LD, Jackson GS, Peacock M, Weaver CM. Soluble corn fiber increases bone calcium retention in postmenopausal women in a dose-dependent manner: a randomized crossover trial. Am J Clin Nutr. 2016;104:837-43.

16.Boler, B.M., M.C. Serao, L.L. Bauer, M.A. Staeger, T.W. Boileau, K.S. Swanson, G.C. Fahey Jr. Digestive physiological outcomes related to polydextrose and soluble maize fibre consumption by healthy adult men. Br J Nutr. 2011;106:1864–1871.

17.Housez, B., M. Cazaubiel, C. Vergara, J.M. Bard, A. Adam, A. Einerhand, and P. Samuel. Evaluation of digestive tolerance of a soluble corn fibre. J Hum Nutr Diet.2012;25:488–496.

18.Molly K. et al. Development of a 5-step multichamber reactor as a simulation of the human intestinal microbial ecosystem. Appl Microb Biotech. 1993;39: 254–258. )



* Renata Cassar - Nutricionista, Mestre em Saúde Pública e Gerente de Nutrição.

Tate & Lyle Brasil S.A.

Tel.: (11) 5090-3958

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