O termo “bióticos” refere-se a estratégias nutricionais que podem ser utilizadas para direcionar a microbiota intestinal para um estado mais favorável à saúde do hospedeiro. Nesse grupo de “ingredientes”, os mais conhecidos são os probióticos, prebióticos e pós-bióticos, que estão ganhando cada vez mais espaço no mercado, incorporando benefícios funcionais de uma maneira mais holística, impulsionados por sua aplicação em alimentos, bebidas e suplementos.
A lista de bióticos também inclui os simbióticos, que podem ser classificados como componentes dietéticos funcionais que aumentam a sobrevivência dos probióticos durante sua passagem pelo trato digestório superior, pelo fato do seu substrato específico estar disponível para a fermentação; e os paraprobióticos, cujo termo define células microbianas não viáveis (intactas ou quebradas) ou extratos celulares brutos (com composição química complexa), que quando administrado (por via oral ou tópica) em quantidades adequadas, confere algum benefício ao consumidor.
O termo probiótico é de origem grega e significa “para a vida”. Os probióticos eram classicamente definidos como suplementos alimentares à base de microorganismos vivos que afetam beneficamente o animal hospedeiro, promovendo o balanço de sua microbiota intestinal. Diversas outras definições de probióticos já foram publicadas, entretanto, a definição atualmente aceita internacionalmente é que são microorganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro.
Os simbióticos são alimentos ou suplementos alimentares que contêm microrganismos probióticos e ingredientes prebióticos, resultando em produtos com características funcionais dos dois grupos que, em sinergia, beneficiam o hospedeiro.
A partir de estudos que sugerem que nem todos os mecanismos que geram benefícios à saúde requerem a viabilidade das bactérias, novos termos surgiram, como paraprobióticos e pós-bióticos.
O uso do termo paraprobiótico foi proposto para ser definido como células microbianas não viáveis (intactas ou quebradas) ou extratos celulares brutos (com composição química complexa), que, quando administrado (por via oral ou tópica) em quantidades adequadas, confere algum benefício ao consumidor.
Já o termo pós-bióticos refere-se a fatores solúveis (produtos ou subprodutos metabólicos) secretados por bactérias vivas ou liberados após a lise bacteriana, que oferecem benefícios fisiológicos ao hospedeiro.
Embora estejam agrupados na mesma família, pareçam semelhantes e atuem de maneira interconectada, os bióticos possuem diferenças básicas.
O consumidor em geral conhece mais os probióticos não pelas suas definições científicas, mas como parte de alimentos segundo a definição dada pela EU Expert Group on Functinal Foods in Europe (FUFOSE), que os descreve como sendo “preparações viáveis em alimentos ou suplementos dietéticos que melhoram a saúde de humanos e animais”.
A influência benéfica dos probióticos na microbiota intestinal humana inclui fatores como efeitos antagônicos e efeitos imunológicos, resultando em um aumento da resistência contra patógenos. Assim, a utilização de culturas bacterianas probióticas estimula a multiplicação de bactérias benéficas, em detrimento à proliferação de bactérias potencialmente prejudiciais, reforçando os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro.
Vários microrganismos são usados como probióticos, entre eles bactérias ácido-lácticas, bactérias não ácido-lácticas e leveduras. Bactérias pertencentes aos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium e, em menor escala, Enterococcus faecium, são mais frequentemente empregadas como suplementos probióticos para alimentos, uma vez que têm sido isoladas de todas as porções do trato gastrintestinal do humano saudável.
Os prebióticos são componentes alimentares não-digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon. Adicionalmente, podem inibir a multiplicação de patógenos, garantindo benefícios adicionais à saúde do hospedeiro. Esses componentes atuam mais frequentemente no intestino grosso, embora possam ter também algum impacto sobre
os microrganismos do intestino delgado.
O desenvolvimento dos prebióticos surgiu da descoberta dos fatores bifidus, oligossacarídeos presentes apenas no leite humano, que favorecem a multiplicação de bifidobactérias de recém-nascidos amamentados com leite materno.
Os prebióticos modificam a composição da microbiota colônica, de tal forma, que as bactérias com potencial de promoção de saúde tornam-se a maioria predominante.
As principais características de um prebiótico incluem resistência às enzimas salivares, pancreáticas e intestinais, bem como ao ácido estomacal; não deve sofrer hidrólise enzimática ou absorção no intestino delgado; deve ser metabolizado seletivamente no cólon por um número limitado de bactérias benéficas; deve ser capaz de alterar a microbiota colônica para uma microbiota bacteriana saudável e ser capaz de induzir efeito fisiológico que seja importante para a saúde.
Devido a sinergia potencial entre probióticos e prebióticos, os alimentos que contêm uma combinação desses ingredientes são frequentemente referidos como simbióticos, que consistem em alimentos ou suplementos alimentares que contêm microorganismos probióticos e ingredientes prebióticos, resultando em produtos com características funcionais dos dois grupos que, em sinergia, beneficiam o hospedeiro.
Já os pós-bióticos, o mais recente adicionado à lista de bióticos, são obtidos a partir da fermentação dos probióticos, de modo que podem ser considerados como um subproduto deles. Quando fermentados e alimentados com moléculas fibrosas, os probióticos originam os pós-bióticos, cujas propriedades são capazes de ajudar na regulação do microbioma intestinal.
Possuem atividades anti-inflamatórias, imunomoduladoras, anti-obesogênicas, anti-hipertensivas, hipocolesterolêmicas, antiproliferativas e antioxidantes. Essas propriedades sugerem que os pós-bióticos podem contribuir para a melhoria da saúde do hospedeiro, melhorando as funções fisiológicas.
Embora o conceito seja relativamente novo, já existem há muito tempo e foram associados a vários benefícios à saúde, principalmente ao fortalecimento do sistema imunológico. São associados principalmente a atividades imunomoduladoras, pois desempenham papel na estimulação do sistema imunológico inato e adaptativo, mantendo a integridade da barreira da mucosa intestinal e antagonizando patógenos com compostos antimicrobianos, como os efeitos dos probióticos.
Além das vantagens terapêuticas, alguns pós-bióticos também são utilizados por suas funções tecnológicas que afetam positivamente as propriedades físico-químicas e sensoriais do produto final, proporcionando melhor estabilidade, textura e sabor.
Produtos que contêm probióticos e pós-bióticos já estão ganhando força no mercado. Mas além dos benefícios de saúde diretos na microbiota e de fornecer características organolépticas desejadas nos alimentos, os pós-bióticos podem ser de extrema importância para a segurança alimentar, garantindo menor crescimento de patógenos em diversas matrizes alimentares.
Entre as aplicações potenciais dos pós-bióticos em diversas matrizes alimentares com o objetivo de garantir a segurança alimentar está a biopreservação de alimentos, uma nova abordagem que é aplicada para estender a vida útil e prevenir a deterioração microbiana de alimentos usando microrganismos específicos (culturas primárias e secundárias) e seus metabólitos antimicrobianos, ou seja, ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, bacteriocinas, etc.